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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2009

Resolvi postar um texto que escrevi no começo do ano... Na época achei que daria algum problema... Mas hoje acho que não... hehehe...

Que o ano de 2009 seja repleto de comunhão com Aquele que a cada dia me surpreende mais com tamanha Graça e Amor... que Ele nos abençoe...

P.S. Por favor, para aqueles que não entendem muito bem a Graça do nosso Deus, e gostam de seguir o V.T. à risca, vivendo de baixo da lei, não vamos apedrejar esse menino do texto só porque eu não gravei um CD em 2008, quem sabe em 2009... hehehe... brincadeirinha...

No último domingo estava dirigindo o momento de louvor na minha igreja, quando um menino subiu no palco e começou a orar comigo. Ele era um daqueles “profetas” que gostam de falar em nome de Deus. Logo começaram as previsões. Entre palavras em outra língua, ele me dizia, na minha língua, que via um CD. Eu gravaria um disco e Deus me usaria muito, se eu estivesse firme. Não me lembro as palavras usadas ao certo, mas essa do CD me marcou... Imagine eu, gravando...
Normalmente, eu teria ficado irritado com essa atitude. Ainda mais porque não vi esse menino ir orar com outras pessoas. Talvez com alguém que estivesse sentado lá no fundo, chorando porque seus filhos estão afastados de Deus; ou com alguma senhora que tem como ministério chegar mais cedo e limpar todas as cadeiras para eu e ele sentarmos; ou ainda quem sabe orar com alguém que não conhece a Jesus, que entrou ali naquela noite e não faz Idéia do amor que o Pai tem por ele. Mas esse “profeta” não. Sua “profecia” vinha direto para o “ministro de louvor”. Por favor...
Mas na hora fiquei quieto, e logo em seguida agradeci a Deus porque posso falar com Ele diretamente. Reconheci que sem Deus não há valor em mim, que sou como um vaso de barro que apenas serve para ser quebrado. Mas quando estou cheio do Espírito Santo meu valor é maior que qualquer bem nesse mundo, não por minha causa, mas por causa do Tesouro que está em mim. Depois lamentei por esse menino. Na verdade, ele precisa conhecer mais o caráter de Cristo e o que diz a sua Palavra; precisa ler sobre a vida de Paulo em atos, e ler as cartas que ele escreveu para as igrejas que fundou; precisa olhar para Jesus e aprender a controlar mais suas emoções, andando pela fé e não pelo que sente; e por fim entender que Deus é o único Todo Poderoso, que sabe todas as coisas e está em todo lugar. Porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. A ele seja a Glória para sempre! Amém.
Cansei de pessoas que desvalorizam a morte de Jesus; que não entendem o sentido do véu rasgado; que não conseguem se contentar com as Sagradas Escrituras; que necessitam ouvir outras vozes além da voz de Deus; que quando vão orar precisam subir num tablado de madeira que chamam de altar. Cansei dos que se dizem apóstolos, profetas, levitas, que criam uma classe hierárquica, onde o menor é aquele que serve. Falam e ouvem a respeito de Deus, mas não o conhecem, não andam com Ele e não conseguem vê-lo.
Nesse novo ano quero ser mais amigo de Deus, me relacionar com o Pai de tal forma que o meu caráter se torne igual ao dEle. Quero viver como Jesus viveu, orar como Ele orou, servir como Ele serviu, amar como Ele me ama e perdoar como Ele me perdoou. Vou procurar fazer mais e falar menos, aparecer menos, diminuir para que o Senhor cresça. Vou buscar relacionamentos que possa levar para vida eterna, valorizar momentos com minha família, fortalecer amizades. Terei mais momentos a sós, onde poderei admirar as noites enluaradas, o formato das nuvens, a beleza das flores, louvar e ouvir o Criador. Vou valorizar o silêncio e os meus momentos de leitura. Quero compor canções que falem de amor e exaltem a Deus. Quero passar mais tempo orando, e quando for orar, vou entrar no meu quarto e falar com meu Pai, que está em secreto, e então Ele me recompensará.

NELE, com quem tenho livre acesso através de Jesus, o Cristo...


João Haroldo Bertrand

07.01.2008


quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL

Aqui vai um artigo do Reinaldo Azevedo que saiu na revista Veja dessa semana... P'ra parar p'ra pensar... Que este natal seja o renascimento de poetas e poemas, de canções de amor, de sonhos, de jardins repletos de felicidade... Deus abençoe a todos...



QUE DEUS É ESTE?

"Boa parte das nações e dos homens celebra, nesta semana, o nascimento do Cristo, e uma vez mais nos perguntamos, e o faremos eternidade afora: qual é o lugar de Deus num mundo de iniqüidades? Até quando há de permitir tamanha luta entre o Bem e o Mal? Até Ele fechou os olhos diante das vítimas do nazismo em Auschwitz, dos soviéticos que pereceram no Gulag, da fome dizimando milhões depois da revolução chinesa? E hoje, "Senhor Deus dos Desgraçados" (como O chamou o poeta Castro Alves)? Darfur, a África Subsaariana, o Oriente Médio... Então não vê o triunfo do horror, da morte e da fúria? Por que um Deus inerme, se é mesmo Deus, diante das "espectrais procissões de braços estendidos", como escreveu Carlos Drummond de Andrade? Que Deus é este, olímpico também diante dos indivíduos? Olhemos a tristeza dos becos escuros e sujos do mundo, onde um homem acaba de fechar os olhos pela última vez, levando estampada na retina a imagem de seu sonho – pequenino e, ainda assim, frustrado...Até quando haveremos de honrá-Lo com nossa dor, com nossas chagas, com nosso sofrimento? Até quando pessoas miseráveis, anônimas, rejeitadas até pela morte, murcharão aos poucos na sua insignificância, fazendo o inventário de suas pequenas solidões, colecionando tudo o que não têm – e o que é pior: nem se revoltam? Se Ele realmente nos criou, por que nos fez essa coisa tão lastimável como espécie e como espécimes? Se ao menos tirasse de nosso coração os anseios, os desejos, para que aprendêssemos a ser pedra, a ser árvore, a ser bicho entre bichos... Mas nem isso. Somos uns macacos pelados, plenos de fúrias e delicadezas (e estas nos doem mais do que aquelas), a vagar com a cruz nos ombros e a memória em carne viva. Se a nossa alma é mesmo imortal, por que lamentamos tanto a morte, como observou o latino Lucrécio (séc. I a.C.)? Se há um Deus, por que Ele não nos dá tudo aquilo que um mundo sem Deus nos sonega?Evito, leitor, tratar aqui do mistério da fé, que poderia, sim, responder a algumas perplexidades. O que me interessa neste texto é a mensagem do Cristo como uma ética entre pessoas, povos e até religiões. Não pretendo, com isso, solapar a dimensão mística do Salvador, mas dar relevo a sua dimensão humana. O cristianismo é o inequívoco fundador do humanismo moderno porque é o criador do homem universal, de quem nada se exigia de prévio para reivindicar a condição de filho de Deus e irmão dos demais homens. É o fundamento religioso do que, no mundo laico, é o princípio da democracia contemporânea. Não por acaso, a chamada "civilização ocidental" é entendida, nos seus valores essenciais, como "democrática" e "cristã". Isso tudo é história, não gosto ou crença.Falo das iniqüidades porque é com elas que se costuma contrastar a eventual existência de uma ordem divina. Segundo essa perspectiva, se o Mal subsiste, então não pode haver um Deus, que só seria compatível com o Bem perpétuo. Ocorre que isso tiraria dos nossos ombros o peso das escolhas, a responsabilidade do discernimento, a necessidade de uma ética. Nesse caso, o homem só seria viável se isolado no Paraíso, imerso numa natureza necessariamente benfazeja e generosa. O cristianismo – assim como as demais religiões (e também a ciência) – existe é no mundo das imperfeições, no mundo dos homens. Contestar a existência de Deus segundo esses termos corresponde a acenar para uma felicidade perpétua só possível num tempo mítico. E as religiões são histórias encarnadas, humanas.Em Auschwitz, no Gulag ou em Darfur, vê-se, sem dúvida, a dimensão trágica da liberdade: a escolha do Mal. E isso quer dizer, sim, a renúncia a Deus. Mas também se assiste à dramática renúncia ao homem. Esperavam talvez que se dissesse aqui que o Mal Absoluto decorre da deposição da Cruz em favor de alguma outra crença ou convicção. A piedade cristã certamente se ausentou de todos esses palcos da barbárie. Mas, com ela, entrou em falência a Razão, humana e salvadora.Fé e Razão são categorias opostas, mas nasceram ao mesmo tempo e de um mesmo esforço: entender o mundo, estabelecendo uma hierarquia de valores que possa ser por todos interiorizada. As cenas das mulheres de Darfur fugindo com suas crianças, empurradas pela barbárie, remetem, é inevitável, à fuga de Maria e do Menino Jesus para o Egito, retratada por Caravaggio (1571-1610) na imagem que ilustra este texto – o carpinteiro José segura a partitura para o anjo. As representações dessa passagem, pouco importam pintor ou escola, nunca são tristes (esta vem até com música), ainda que se conheça o desfecho da história. É o cuidado materno, símbolo praticamente universal do amor de salvação, sobrepondo-se à violência irracional que o persegue.Nazismo, comunismo, tribalismos contemporâneos tornados ideologias... São movimentos, cada um praticando o horror a seu próprio modo, que destruíram e que destroem, sem dúvida, a autoridade divina. Mas nenhum deles triunfou sem a destruição, também, da autoridade humana, subvertendo os valores da Razão (afinal, acreditamos que ela busca o Bem) e, para os cristãos, a santidade da vida. Todas as irrupções revolucionárias destruíram os valores que as animaram, como Saturno engolindo os próprios filhos. O progresso está com os que conservam o mundo, reformando-o.Pedem-me que prove que um mundo com Deus é melhor do que um mundo sem Deus? Se nos pedissem, observou Chesterton (1874-1936), pensador católico inglês, para provar que a civilização é melhor do que a selvageria, olharíamos ao redor um tanto desesperados e conseguiríamos, no máximo, ser estupidamente parciais e reducionistas: "Ah, na civilização, há livros, estantes, computador..." Querem ver? "Prove, articulista, que o estado de direito, que segue os ritos processuais, é mais justo do que os tribunais populares." E haveria uma grande chance de a civilização do estado de direito parecer mais ineficiente, mais fraca, do que a barbárie do tribunal popular. Há casos em que é mais fácil exibir cabeças do que provas. A convicção plena, às vezes, é um tanto desamparada.Este artigo não trata do mistério da fé, mas da força da esperança, que é o cerne da mensagem cristã, como queria o apóstolo Paulo: "É na esperança que somos salvos". O que ganha quem se esforça para roubá-la do homem, fale em nome da Razão, da Natureza ou de algum outro Ente maiúsculo qualquer? E trato da esperança nos dois sentidos possíveis da palavra: o que tenta despertar os homens para a fraternidade universal, com todas as suas implicações morais, e o que acena para a vida eterna. O ladrão de esperanças não leva nada que lhe seja útil e ainda nos torna mais pobres de anseios.O cristianismo já foi acusado de morbidamente triste, avesso à felicidade e ao prazer de viver, e também de ópio das massas, cobrindo a realidade com o véu de uma fantasia conformista, que as impedia de ver a verdade. Ao pregar o perdão, dizem, é filosofia da tibieza; ao reafirmar a autoridade divina, acusam, é autoritário. Pouco afeito à subversão da autoridade humana, apontam seu servilismo; ao acenar com o reino de Deus, sua ambição desmedida. Em meio a tantos opostos, subsiste como uma promessa, mas também como disciplina vivida, que não foge à luta.Precisamos do Cristo não porque os homens se esquecem de ter fé, mas porque, com freqüência, eles abandonam a Razão e cedem ao horror. Sem essa certeza, Darfur – a guerra do forte contra o indefeso, da criança contra o fuzil, do bruto contra a mulher –, uma tragédia que o mundo ignora, seria ainda mais insuportável".

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

SERÁ QUE VOU REZAR?

"SOU UM ADMIRADOR de Gandhi. Cheguei mesmo a escrever um livro sobre ele. Estou planejando convocar os amigos para uma homenagem póstuma a esse grande líder pacifista e vegetariano. Pensei que uma boa maneira de homenageá-lo seria um evento numa churrascaria, todo mundo gosta de churrasco, um delicado rodízio com carnes variadas, picanhas, filés, costelas, cupins, fraldinhas, lingüiças, salsichas, paios, galetos e muito chope. O grande líder merece ser lembrado e festejado com muita comilança e barriga cheia!
Eu não fiquei doido. O que fiz foi usar de um artifício lógico chamado 'reductio ad absurdum' que consiste no seguinte: para provar a verdade de uma proposição, eu mostro os absurdos que se seguiriam se o seu contrário, e não ela, fosse verdadeiro. Eu demonstrei o absurdo de se celebrar um líder vegetariano de hábitos frugais com um churrasco.
Uma homenagem tem de estar em harmonia com a pessoa homenageada para torná-la presente entre aqueles que a celebram. Uma refeição, sim. Mas pouca comida. Comer pouco é uma forma de demonstrar nosso respeito pela natureza. Alface, cenoura, azeitonas, pães e água.
Escrevo com antecedência, hoje, 27 de novembro, um mês antes, para que vocês celebrem direito. A celebração há de trazer de novo à memória o evento celebrado.
É uma cena: numa estrebaria uma criancinha acaba de nascer. Sua mãe a colocou numa manjedoura, cocho onde se põe comida para os animais. As vacas mastigam sem parar, ruminando. Ouve-se um galo que canta e os violinos dos grilos, música suave... No meio dos animais tudo é tranqüilo. Os campos estão cobertos de vaga-lumes que piscam chamados de amor. E no céu brilha uma estrela diferente. Que estará ela anunciando com suas cores? O nascimento de um Deus?
É. O nascimento de um Deus. Deus é uma criança.
O nascimento do Deus criança só pode ser celebrado com coisas mansas. Mansas e pobres. Os pobres, no seu despojamento, devem poder celebrar. Não é preciso muito.
Um poema que se lê. Alberto Caeiro escreveu um poema que faria José e Maria, os pais do menininho, rir de felicidade: 'Num meio-dia de fim de primavera, tive um sonho como uma fotografia: Vi Jesus Cristo descer a terra. Veio pela encosta do monte tornado outra vez menino. Tinha fugido do céu'. Longo, merece ser lido inteiro, bem devagar...
Uma canção que se canta. Das antigas. Tem de ser das antigas. Para convocar a saudade. É a saudade que traz para dentro da sala a cena que aconteceu longe. Sem saudade o milagre não acontece.
Algo para se comer. O que é que José e Maria teriam comido naquela noite? Um pedaço de queijo, nozes, vinho, pão velho, uma caneca de leite tirado na hora. E deram graças a Deus.
E é preciso que se fale em voz baixa. Para não acordar a criança.
Naquela mesma noite, havia uma outra celebração no palácio de Herodes, o cruel. Ele tinha medo das crianças e mataria todas se assim o desejasse. A mesa do banquete estava posta: leitões assados, lingüiças, bolos e muito vinho... Os músicos tocavam, as dançarinas rodopiavam. Grande era a orgia.É. Cada um celebra o que escolhe. Acho que vou fazer uma sopa de fubá que tomarei com pimenta e torradas. E lerei poemas e ouvirei música. E farei silêncio quando chegar a meia-noite e, quem sabe, rezarei..."
De Rubem Alves (publicado pela Folha de S.Paulo, 27/11/2007)