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sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

PINÓQUIO

“...Era uma vez um menininho, de carne e osso, igual a tantos, que se deleitava nas coisas simples que a vida dá. Ria nos seus mundos de faz-de-conta, voava nas asas dos urubus, assustava os peixes, nariz achatado nos vidros dos aquários, assobiava para os perus, andava na chuva – todas essas coisas que crianças fazem e os adultos desejam fazer, e não fazem, por vergonha. Sua vida escorria feliz por cima do desejo.
Não sabia que uma conspiração estava em andamento. Tudo começara bem antes, quando um nome lhe fora dado. Nome do pai. Claro, confissão de intenções: que o menino sem nome e sem desejos aceitasse como seus o nome e os desejos de um outro que ele nem mesmo conhecia. Filho, extensão do pai, realização de desejos não realizados, sobrevivência do seu corpo, uma pitada de onipotência, uma gota de imortalidade.
‘Que é que ele vai ser quando crescer? Médico? Diplomata? Cientista?’
E as conversas se prolongavam, temperadas com sorrisos e boas intenções, enquanto silenciosas se teciam as malhas do desejo em que o pai e a mãe esperavam colher/acolher/encolher o menino dos desejos simples.
Até que chegou o dia em que lhe foi dito:
- É preciso ir para escola. Todos os meninos vão. Para se transformarem em gente. Deixar as coisas de criança. Em cada criança brincante dorme um adulto produtivo. É preciso que o adulto produtivo devore a criança inútil.
E assim aconteceu. Há certos golpes do destino contra os quais é inútil lutar.
O menino de carne e osso aprendeu coisas curiosas: nomes de heróis, frases que teriam dito, as alturas de montes onde nunca subiria, as funduras dos mares onde nunca desceria, a distância de galáxias, o “se”, partícula apassivadora, o “se”, símbolo de indeterminação do sujeito, nomes de cidades de países longínquos, suas populações e riquezas, fórmulas e mais fórmulas...
Sabia que tudo aquilo deveria ter um motivo. Só que ele não entendia. O desejo permanecia selvagem. E disto eram prova aquelas notas vermelhas no boletim, testemunhas de como o menino cavalgava longe do desejo dos outros, conspiradores secretos, escondidos na monotonia dos currículos que não faziam o seu corpo sorrir...
‘Pra que serve tudo isso?’, ele perguntava.
O pai respondia, sábio e paciente:
- Um dia você saberá. Por hora basta de saber que papai sabe o que é melhor para seu filho...
O menino cresceu. E aconteceu que, em meio às suas rotinas, veio a se encontrar com dois cavalheiros bem vestidos e de fala branda, que se puseram a contar estórias de um mundo encantado sobre o qual ele nunca ouvira falar. Eles disseram de heróis em aventais brancos, cavalgando microscópios e telescópios, brandindo máquinas fantásticas e aparelhos misteriosos, em meio a líquidos mágicos que faziam viver e morrer, encastelados em templos onde as coisas visíveis ficavam invisíveis e as coisas invisíveis ficavam visíveis, e lhe disseram de prodígios de verdade, e lhe perguntaram se ele não desejava se transformar num mago, num artista... A recompensa? O poder, o conhecimento de segredos que ninguém conhece, a glória, ser olhado por todos como um ser diferente, sublime, superior. Se os seus prodígios fossem maiores que os de todos, ele poderia aparecer no palco supremo da Ciência, em país distante, onde os mortais se revestem de imortalidade...
O menino grande se lembrou dos sonhos de menino pequeno. E sorriu. Finalmente, chegara o momento da sua realização. Estranhou que os narizes dos respeitáveis cavalheiros tivessem crescido enquanto falavam. Mas, logo o tranqüilizaram:
- É só pra te cheirar melhor, meu filho...
Começaram as transformações. Primeiro os olhos. Já não refletiam outros olhares e nem borboletas... Aprenderam a concentração, a disciplina. Depois o corpo, que desaprendeu a dança, o vôo dos papagaios e o brinquedo. Era necessário dedicar-se totalmente. Os pensamentos abandonaram as fantasias e os contos de fadas. Passaram a morar no mundo das fórmulas e dos experimentos. Até o prazer da comida se satisfez com os sanduíches rápidos do almoço, e na cama o corpo se esqueceu do corpo...
E aprendeu coisas preciosas. Que o corpo do cientista é neutro. Que ele não se comove por considerações de valor ou prazer. Que está acima da vida e da morte (isto é coisa de políticos, militares e clérigos), em dedicação total ao saber. Bastava-lhe ser um devotado servidor do progresso da Ciência.
Mas, tantos sacrifícios acabaram por receber merecida recompensa. A sorte soprou, favorável, e de seu corpo diferente surgiu uma nova magia, e o palco da imortalidade lhe foi aberto. Lá, perante todos, compreendeu que valera a pena. Duas lagrimas lhe rolaram pela face.
Já não era o menino de outrora, carne e osso. Crescera. Estava diferente. Os aplausos de madeira enchiam a sala. Era a glória. E foi então que o milagre aconteceu. O recinto se encheu de suave luminosidade, e a Mosca Azul, que até então só habitara os seus sonhos, veio de longe e roçou seu rosto com suas asas. E a grande transformação aconteceu. Era um boneco de madeira, inteligência pura, sem coração. E os milhares de bonecos, iguais, de pé, não paravam de tamanquear os seus aplausos ao novo irmão, enquanto gritavam o seu nome:
- Pinóquio, Pinóquio, Pinóquio...”

Rubem Alves

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

MENSAGEM DE NATAL

Por José Barbosa Junior...


"Há muito tempo atrás um poeta decidiu escrever sua obra. Poetas são seres mágicos, suas palavras têm o poder de criar mundos. Basta que digam e as coisas acontecem, surgem do nada, ex nihilo, desejos que se transformam em coisas.

Esse poeta criou mundos assim, pela sua palavra. Bastava dizer e as coisas vinham à existência. Era característica dele o gosto pela criação, e sempre ao final de cada criação ele via que tudo aquilo era bom... e seguia adiante... criando coisas, até que decidiu encerrar a sua criação. Era hora de escrever a sua obra prima, sua grande ária da magnífica ópera que começava a existir.

Havia um cuidado especial para a criação de seu mais grandioso poema, não bastariam as palavras ao vento, Ele as queria escrever com as próprias mãos, seria diferente, ao invés de simples palavras, barro... e então a obra foi feita, imagem e semelhança dEle. O grande poeta então, ao ver sua obra ali, como ele queria, soprou sobre ela... e a poesia ganhou vida, ganhou palavras novas, ganhou o sopro do criador... inspiração... expiração... vento...

Mais tarde, ao contemplar sua magnífica obra percebeu um ar de tristeza na sua poesia, faltava-lhe algo, faltava-lhe rima, algo que o completasse inteiramente... havia um vazio em meio a algumas linhas e o poeta fez com que sua poesia dormisse, e sonhasse... nos sonhos os mundos também se criam...

Ao acordar de seu sono o poema se viu completo, as palavras agora se encaixavam perfeitamente, e havia sentimentos novos... desejo... amor... coisas que só um poeta entende, e sua poesia também. E assim conviviam bem, poeta e poesia, autor e obra, e da criação passou-se à nomeação das coisas, palavras novas, imaginação, imagem em ação, nomes, palavras, seres... vidas...

Até que um dia um cientista resolveu aparecer para complicar a história. Cientistas detestam poetas e odeiam poesias. Afinal, cientistas são conhecedores do bem e do mal... então o cientista resolveu oferecer ao poema a “grande chance” de deixar de ser poesia e tornar-se uma grande tese acadêmica, afinal a poesia é para os sonhadores, loucos, boêmios, amantes, mas as teses científicas é que dominam o “mercado” e nos dão garantia de sermos deuses, conhecedores de todo o bem e todo o mal.

A poesia cedeu sua beleza e encanto à praticidade do texto científico... houve um borrão no poema original, que perdeu sua essência... tornou-se um texto chato, cansativo, longo demais... textos desses que ninguém consegue entender, dizem até que num determinado momento tal era a confusão que a tese se dividiu em línguas diferentes, nem ela mesmo se entendia... babel... confusão...

Algo deveria ser feito para se reconquistar a poesia original... mas... o que ? Um poema como o original, algo tão belo que, ao morrer poesia (e toda poesia traz em si um pouco de morte) apagasse as manchas do primeiro poema e restaurasse a beleza que havia escondida sob os borrões das teses cientificas, sob o conhecimento do bem e do mal.

Os filósofos, amigos dos poetas, chamavam o criador de poemas de Verbo, verbo é a alma do poema, poemas sem verbos são chatos. Imagine um poema sem amar, sentir, chorar, sonhar, ver, ouvir, tocar, cheirar, sofrer...

Pois o verbo... se fez carne... o poeta se fez poesia, e mais...se fez criança. Crianças e poesias tem muito em comum... não se levam a sério demais. Brincam com a vida, brindam a vida. Como diria o poeta Rubem Alves: “O natal é um poema. Nele Deus se revela como criança (...) Prefiro o Deus criança. No colo de um Deus criança, eu posso dormir tranqüilo.”

Isto é natal!! Poesia, amor, canção... tudo embalado e regido por uma criança... deixai vir a mim os pequeninos porque dos tais é o reino da poesia. Deus é o poeta... nós somos o poema... Jesus é o poeta-poema feito criança... natal!!

Já quis muito ser teólogo... hoje não quero mais.... quero ser poeta. Um teólogo vê uma criança e trata de elaborar uma tese, talvez sobre a soteriologia infantil, pedobatismo, idade da razão, etc. O poeta vê uma criança e brinca, faz poesia, e a criança brinca com ele, vira poema! Viva a poesia! Que o natal seja o renascimento de poetas e poemas, de canções de amor, de sonhos, de jardins repletos de felicidade...

Que o poeta seja reverenciado, que o poema-criança seja amado, e que o poeta que se fez poesia seja lembrado como o criador dos versos mais maravilhosos que ele já fez, mudando de vez a história... mudando a nossa história...
Feliz Natal!!!"

José Barbosa Junior

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

SEGUNDA DIVISÃO

Foi difícil acreditar. O Goiás ganhou do Internacional e o Corinthians apenas empatou com a equipe do Grêmio. A crise no Parque São Jorge chegou ao fundo do poço. A torcida mais unida e fiel do Brasil não acreditava e não merecia. Enfim, no ano de 2008 o Grandioso Corinthians jogará o Campeonato Brasileiro pela série B. Não estamos mais na elite do futebol brasileiro, e isso tudo porque a antiga diretoria do clube não fez um planejamento. Esse é o resultado quando não existem metas a serem alcançadas, quando os objetivos estão completamente adulterados e a perspectiva de vencer simplesmente não existe.
Não é apenas um jogo, é toda uma temporada. O Corinthians começou bem, chegou a liderar por algumas rodadas, mas seus jogadores foram indo embora, as contratações foram péssimas, e na metade do campeonato o time estava desmontado e não possuía nem sequer uma base. Muitos jogadores subiram das categorias inferiores, outros chegaram no meio da bagunça e não conseguiram impor seu futebol. E enquanto isso a diretoria explodia em escândalos. Tudo porque ninguém parou pra pensar em como seria esse ano, quais as melhores contratações a serem feitas, que contratos devem ser feitos para que os jogadores permaneçam na equipe, qual a melhor hora para os atletas das categorias de base subirem para o profissional.
Quando não temos um planejamento, não sabemos aonde queremos chegar. Por isso tantas empresas afundam, tantas pessoas levam uma vida sem perspectiva, tantos casamentos acabam. Quantas pessoas chegam à fase adulta sem saber o que fazer? E os profissionais que se formam e não sabem se é essa a profissão que realmente querem. É preciso parar e pensar se realmente vale à pena; se é isso mesmo; se estamos dispostos a lutar por uma causa, abraçá-la e acreditar que no final, apesar das lutas, tudo dará certo.
Neemias antes de reconstruir os muros de Jerusalém, saiu à noite para avaliar a obra que seria feita, tudo deveria ser pensado por ele antes, era necessário um projeto (Neemias 2:13-16). Jesus disse: “Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar’. Ou, qual é o rei que, pretendendo sair à guerra contra outro rei, primeiro não se assenta e pensa se com dez mil homens é capaz de enfrentar aquele que vem contra ele com vinte mil? Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz. Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo”. (Lucas 14:28-33)
Por falta de planejamento deixamos de alcançar metas, vivemos sem objetivos, e só nos preocupamos com o que é necessário para que tudo fique bem no dia de hoje. Mas o problema é que logo o amanha chegará, e com ele as crises e os problemas, e como passar por tudo isso se não planejamos antes? Vamos buscar objetivos concretos e de longo prazo para nossas vidas. Vamos focar nossa existência naquilo que acreditamos. Vamos pagar o preço das nossas escolhas, ainda que seja muito caro. Vamos sonhar e planejar o que sonhamos, e no final receber a coroa da concretização da nossa luta.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

JESUS É A RESPOSTA... MAS QUAL É A PERGUNTA?!?

“O mundo moderno era racional, científico, positivo. Acreditava na bondade natural do ser humano. Era um mundo de certezas e de sólidas convicções. Porém, após duas guerras mundiais e uma infinidade de conflitos étnicos, políticos e econômicos, esta era de certezas deu lugar a um espírito cínico e desiludido. O mundo pós-moderno é o mundo do desencanto, da decepção, da desilusão, das incertezas. Emocionalmente, a modernidade refletiu o progresso, o otimismo, a confiança na tecnologia. O pós-moderno é o oposto – é negativo, irracional e subjetivo. O rápido processo de secularização, o avanço tecnológico, o rompimento com as tradições, a relativização dos valores e dos costumes, o fortalecimento do individualismo e a quebra do consenso social apresentaram uma nova agenda para a sociedade”. (Ricardo Barbosa)
“Esta sensação de que o cristianismo é uma coisa distante, obsoleta e irrelevante existe em todo lugar. O mundo mudou tão drasticamente desde os dias de Jesus! E continua mudando com rapidez ainda mais assustadora. As pessoas rejeitam o evangelho, não necessariamente por considerá-lo falso, mas porque ele já não faz mais sentido para elas". (John Stott)
Jesus é a resposta, mas qual é a pergunta? Será que estamos respondendo perguntas que não estão mais sendo feitas? É preciso olhar com olhos críticos para as necessidades do nosso contexto. Jesus tornou Seu ministério relevante em meio a uma sociedade carente de Sua mensagem de vida. O modo como falamos é um dos principais pontos de contato com as pessoas. Vivemos em um mundo dividido por preferências e estilos, portanto, é natural que haja uma grande variedade de pensamentos dentro de cada grupo. Jesus quando chamou Seus discípulos, disse que os faria "pescadores de homens", em Sua mensagem de Salvação Ele dizia que era o “pão da vida”, a “porta”, o “bom pastor”, o “caminho”, a “videira verdadeira”. Ele também sentou a mesa de todo tipo de gente. Não podemos deixar que barreiras sociais ou de qualquer outro tipo nos afastem das pessoas, assim como Ele, nós devemos usar uma mensagem contextualizada. A mensagem do evangelho é relevante e tem respostas para todas as questões de todas as épocas. O que devemos buscar é a sabedoria para aplicar os textos bíblicos em cada situação que se apresenta diante de nós.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O TAPECEIRO

Não estou tendo tempo nem muita inspiração para escrever ultimamente, ai resolvi postar outra música, "O Tapeceiro" de Stênio Március; muito boa essa letra...
Faltam músicas com letras mais profundas em nossos momentos de louvor, hoje a maioria é muito superficial, falta conteúdo teológico, a linha melódica é fraca e muitas vezes até português compromete... (Existe muita música boa também, não é maioria, mas existe...)



O Tapeceiro
"Tapeceiro, grande artista,
Vai fazendo seu trabalho
Incansável, paciente no seu tear
Tapeceiro, não se engana
Sabe o fim desde o começo,
Traça voltas, mil desvios sem perder o fio
Minha vida é obra de tapeçaria,
É tecida de cores alegres e vivas,
Que fazem contraste no meio das cores
Nubladas e tristes
Se você olha do avesso,
Nem imagina o desfecho
No fim das contas, tudo se explica,
Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem
Quando se vê pelo lado certo,
Muda-se logo a expressão do rosto,
Obra de arte pra Honra e Glória do Tapeceiro
Quando se vê pelo lado certo,
Todas as cores da minha vida
Dignificam a Jesus Cristo, o Tapeceiro"

sábado, 3 de novembro de 2007

TUDO É VAIDADE

Assistindo alguns programas "evangélicos” hoje pela manha resolvi postar uma música do João Alexandre...


TUDO É VAIDADE

"Vaidade no comprimento da saia,
no cumprimento da lei
Vaidade exigindo prosperidade por ser o filho do Rei
Vaidade se achando a igreja da história
Vaidade pentecostal
Vivendo e correndo atrás do vento
Tudo é vaidade
Vaidade juntando a fé e a vergonha
chamando todos de irmãos
Vaidade de quem esconde a verdade
por ter o povo nas mãos
Vaidade buscando Deus em si mesmo
querendo fugir da cruz
Não crendo e sofrendo, perdendo tempo
Tudo é vaidade
Falsos chamados apostolados do lado oposto da fé
Dinheiro, saúde, felicidade
Aquele que tem contra aquele que é
Rádios, TVs, auditórios lotados
ouvindo o evangelho da marcha ré
A morte se esconde atrás dos templos
Tudo é vaidade"

terça-feira, 23 de outubro de 2007

OBEDECENDO A LEI DEBAIXO DA GRAÇA

Não é engraçado como nós, os cristãos, gostamos da lei? Tudo precisa ter um limite pré-estabelecido. Não conseguimos entender a Graça de Deus, e com isso, estamos sempre procurando algo que nos leve a salvação. Pensamos que com nossas atitudes legalistas seremos dignos do Céu, afinal de contas obedecemos a todos os mandamentos, o que nos falta ainda?
Sempre buscamos o limite, queremos uma norma bem estabelecida, e a partir disso encontrar as brechas na lei. Qual tipo de lugar frequentar, permissão para bebidas alcoólicas, o que ouvir, o que comer, o quer ler, o que assistir... Enfim, em tudo buscamos limites.
Não acho errado ter limites, acho necessário. Mas quando tento buscar na lei, parece impossível. Não quero ser legalista ao ponto de me fechar em um mundo particular, mas quero agradar o coração de Deus com uma vida integra... Então lembrei quando um fariseu, perito na lei, pôs Jesus à prova perguntando qual o maior mandamento, e respondeu Jesus: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas.”
Agora comecei a ver os meus limites, tudo ficou mais claro. Só um homem que era totalmente Deus poderia dar uma resposta como essa. Alguém que não era legalista, mas que obedecia toda a Lei, Ele, que não pecou, mas que ama o pecador, nos mostrou o caminho da obediência. Quando amo, abro mão de prazeres, vontades, sonhos ou até da própria vida, e tudo para não escandalizar, tudo para não ser uma pedra de tropeço, tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns, tudo para alegrar Aquele que é o autor da vida.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

ESCOLHA

Caramba... Deus me criou e ainda me deu a oportunidade de escolher segui-lo ou não!!! Que tipo de Criador da à criatura a opção de rejeitá-lo? O Criador chamado AMOR. Ele é capaz de amar sem precisar ser amado, Ele fez e amou sua criação mesmo sabendo que ela não iria amá-lo... Tudo isso porque quer das criaturas amor voluntário... Deus criou o ser humano com liberdade para escolhê-lo ou não, e mesmo quando a escolha foi rebelar-se, Ele revelou seu plano de Salvação.
PAI OBRIGADO POR PODER TE SERVIR E TE AMAR ESPONTANEAMENTE
ESCOLHA
“Ele pôs um punhado de barro sobre outro, até que sobre o solo jazesse uma forma sem vida...
Estava tudo em silêncio quando o Criador retirou de si mesmo algo que ainda não fora visto. "Chama-se 'escolha'. A semente da escolha".
A criação ficou em silêncio e fitou a forma sem vida.
Um anjo falou: - Mas e se ele...
- Se ele escolher não amar? - Completou o Criador, - Venha, vou mostrar-lhe.
Livres do hoje, Deus e o anjo adentraram no reino do amanhã...
O anjo perdeu o fôlego diante do que viu. Amor espontâneo. Devolução voluntária. Nunca vira algo assim... O anjo permaneceu sem fala, enquanto atravessavam séculos de repugnância. Jamais tanta sujeira. Corações maus. Promessas rompidas. Lealdades esquecidas...
O Criador avançou no tempo, cada vez mais adiante no futuro, até chegar junto a uma árvore que seria transformada em um berço. Ele até pôde sentir o cheiro do feno que o cercava...
- Não seria mais fácil não plantar a semente? Não seria mais fácil não conceder a escolha?
- Seria- respondeu devagar o Criador. - Mas remover a escolha é remover o amor.
... Eles entraram novamente no Jardim. O Criador olhou seriamente para a criação de barro.
Uma inundação de amor cresceu dentro dele. Ele morrera pela criação antes de havê-la feito. O vulto de Deus curvou-se sobre a face esculpida e soprou. O pó moveu-se nos lábios do novo ser. O peito levantou e quebrou a lama vermelha. As bochechas encarnaram. Um dedo mexeu-se. E um olho se abriu.
Porém mais inacreditável que o movimento da carne foi o agitar-se do espírito. Os que puderam ver o nunca visto arfaram.
Talvez tenha sido o vento o primeiro a dizer: Talvez o que as estrelas viram naquele momento seja o que as tenha feito cintilar desde então. Talvez tenha ficado para um anjo o cochichar:
- Parece com... parece demais com... é Ele!
O anjo não falava da face, das feições ou do corpo. Ele olhava dentro - para o espírito.
- É eterno! - Ofegou um outro.
Dentro do homem, Deus havia posto uma semente divina. A semente de si mesmo. O Deus de poder havia criado o mais poderoso da Terra. O Criador fizera não uma criatura, mas outro criador. E aquele que escolhera amar, criara um que podia amar em troca.
Agora a escolha é nossa.”
Max Lucado

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Crente Medíocre

Pensando sobre o que é ser crente me entristeci e percebi o quanto sou medíocre. No dicionário a definição de medíocre é: “mediano; que está entre o bom e o mau; ordinário; insignificante; aquele ou aquilo que tem pouca qualidade, pouco valor, pouco merecimento.” Quantas vezes minha fé é mediana, insignificante e de pouca qualidade e valor, penso que estou levando uma vida compromissada com Deus, chego a achar que sou um homem do qual o mundo não é digno, mas na verdade não passo de um crente medíocre carente da graça e misericórdia do Pai.
O crente medíocre gosta de reparar a vida dos outros, gosta de julgar as pessoas, condenado-as, “dando gancho”, “humilhando’’, dizendo que perdoa sem esquecer, aplicando sanções aos pecadores. Quando algum irmão peca contra ele, corre contar para toda a Igreja e começa a tratá-lo como pagão ou publicano.
O crente medíocre gosta de falar aos outros o quão crente ele é, como ele ora, jejua e lê a bíblia. Sua oração é alta para que todos ouçam. Ele gosta de criticar as pregações, os momentos de louvor, a liturgia do culto é um grande alvo para os seus comentários, que alias, dificilmente são em tom de elogio.
O crente medíocre sempre agradece porque não é como os outros homens: ladrões, corruptos e adúlteros. Ele sempre se orgulha por dar o dízimo e obedecer a Lei, mas não consegue chorar pela causa dos órfãos, das viúvas e dos necessitados. Na verdade ele não abraça nenhuma causa, só consegue olhar para si, só consegue ver o seu problema. Verdadeiro sepulcro caiado, vivendo uma religiosidade, mas seus pensamentos são impuros e geram a morte.
O crente medíocre não ouve “música do mundo”, não vai ao cinema, nem ao teatro, é um analfabeto político, não assiste televisão e nem sabe o que se passa pelo Planeta Terra. Ele se orgulha por orar em línguas, mas não consegue amar o seu vizinho incrédulo, nem sequer o conhece. Ele é um alienado dos acontecimentos da vida, não sabe discutir e nem entende as questões existenciais, como a dor, a miséria, a sexualidade, a paixão, o amor...; vê o diabo em tudo e vive querendo “amarrá-lo”, sempre declarando a vitória, mas mal obedece a Deus e praticamente desconhece o Jesus que venceu a morte e o inferno na Cruz do Calvário.
O crente medíocre não se preocupa com as questões sociais, para ele a pobreza e a doença são sinais de falta de fé, por isso ele ora determinando a benção e tomando posse sem conhecer o Deus da benção. Ele não se envolve com o mundo para não se “contaminar”, por isso não sabe qual a real necessidade da sua sociedade. Ele não se envolve em questões ecológicas, não se preocupa com o desmatamento das florestas, com a extinção de algumas espécies de animais, com a falta de água potável... Aliás, ele nem sabe que o seu carro e a sua geladeira estão contribuindo para acabar com a camada de ozônio, e com isso, provocando o aquecimento global.
O crente medíocre exige de Deus uma prosperidade financeira, e luta para juntar tesouros na Terra. Ele não é pobre de espírito, não chora, não é humilde, não tem sede de justiça e nem é misericordioso, não é puro de coração, não luta pela paz e nem é perseguido por causa da justiça. Ele não consegue salgar a Terra e nem iluminar o Mundo. Tudo o que faz é para ser visto pelos homens, gosta do lugar de honra, fecha o reino dos céus, não entra e não deixa ninguém entrar. Crente medíocre! Obedece a Lei, mas negligencia a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Guia de cego! Côa um mosquito e engole um camelo.
Enquanto sou um crente medíocre, atrapalho o crescimento do Reino de Deus no Planeta, me transformo numa pedra de tropeço, e fecho o Céu para mim e para o meu próximo. Não quero aceitar essa mediocridade, quero ser um agente transformador, que a minha diferença não esteja no modo de me vestir ou no meu falar, mas na essência: coração bom, olhos bons. Quero ser um crente que vive bem com o meu próximo. Quero ser reconhecido como um crente pelo que eu "sou" e não por aquilo que "não faço". Quero ser um crente simpático aos outros, agradável, piedoso, que se entristece com a dor do próximo, mas também se alegra com o seu sucesso. Não quero falar a todo o momento que sou crente, para que outros saibam, mas quero viver de tal modo que outros percebam Cristo em mim. Quero ficar a distância, sem nem ousar olhar para o céu, e batendo no peito dizer: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador!”
02/10/2007